Um Lugar Silencioso ou Família é muito importante
Um Lugar Silencioso estreou mundialmente no início deste mês sob aplausos do público e crítica. Com orçamento de US$ 17 milhões, o filme já arrecadou quase o quádruplo em apenas uma semana nos cinemas. A história, bastante simples, foca na jornada de uma família para sobreviver em um mundo onde quase qualquer barulho pode significar a morte. Dirigida por John Krasinski, conhecido pelo papel de Jim Halpert emThe Office, a história de horror condensada em 1h30 vem angariando aclamação de crítica e público. É para tanto? Aviso: esta resenha contém spoilers, então fique com o trailer e volte após assistir ao filme.
Krasinski, que também atua como o pai da família Abbott, mostra talento para a direção em sua terceira empreitada atrás das câmeras. Um Lugar Silencioso tem referências (e faz reverência) a Alfred Hitchcock, Steven Spielberg e O Abrigo (2011), de Jeff Nichols. O início é didático: somos apresentados ao mundo pós-apocalíptico dominado por monstros que matam qualquer coisa que emitir um som alto o bastante para atraí-los. Para sobreviver, deve-se usar a linguagem de sinais e fazer silêncio. A analogia é claramente conservadora também. Uma família branca, cujos nomes são homenagens a figuras proeminentes do liberalismo, vivendo no campo e sendo caçada por “seres estranhos”.
No aspecto técnico, a tensão em torno da família Abbott, composta por Lee (pai), Evelyn (mãe), Regan, Marcus e Cade (irmã e irmãos), é bem construída logo na cena de abertura. Do suspense que envolve uma ida a um mercadinho para buscar suprimentos até ao destino fatal do caçula Cade, o filme apresenta sua carta de intenções de primeira. Há medo e alívio como parte indissociável à trama. Mais de um ano depois, descobrimos que Evelyn (interpretada por Emily Blunt, esposa de Krasinski na vida real) está grávida, Lee avança em suas pesquisas para dar um aparelho de surdez melhor à destemida Regan (a ótima Millicent Simmonds) e Marcus (Noah Jupe) ainda não superou o medo de ficar fora de casa.
Um Lugar Silenciosoaposta na falta de diálogos para construir com sucesso sua atmosfera. Há duas cenas, uma envolve um prego solto em uma escada e uma inundação, que representam o maior jogo de tensão/alívio de todo o filme. A metáfora, no entanto, grita em nossa frente. O que acontece quando determinado grupo social dominante é silenciado? Na visão de Krasinski, o apocalipse. Diretamente associada à premissa, vem a importância das relações interpessoais. “Quem somos nós se não formos capazes de cuidarmos dos nossos filhos?”, pergunta Evelyn a Lee, em um momento-chave que denota claramente a política do longa.
Quando Marcus e Regan são caçados em um silo de cereais (em uma cena que lembra essa aqui) e, ao fim, Lee se sacrifica pelos seus filhos, a mensagem se solidifica. Regan (que nome, não?), que acidentalmente já havia descoberto a fraqueza dos monstros — o som ou a comunicação ALTA, afinal, “preciso que a minoria me ouça” — salva mãe e irmãos do destino fatal e Evelyn, claro, assume a liderança. Um Lugar Silencioso talvez vire uma franquia, mesmo não tendo muito a oferecer. O que fica é: uma família unida é capaz de superar qualquer ameaça (então tá). Não é possível ignorar os momentos técnicos, mas a mensagem é absolutamente canhestra. Um bom suspense não significa uma boa realização.
Avaliação: Bom