‘Upgrade’ transita entre ficção científica e filme ‘B’ e fica sem rumo

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‘Upgrade’ poderia ser mais uma boa produção de ficção científica sobre a discussão dos males da tecnologia, mas roteiro flerta com outros gêneros que pouco acrescentam e derrapa na construção de personagens.

Desde a aurora do cinema, a ficção científica é usada para reflexões sobre o papel da tecnologia/comportamento na sociedade ou entretenimento e alguma discussão ou tema. Na primeira vertente estão vários clássicos como Blade Runner, Metropolis, a franquia Alien, 2001: Uma Odisseia no EspaçoMatrix etc. Na segunda vertente há nomes como a série Star Wars, E.T.: O Extraterrestre a trilogia de De Volta para o Futuro. O filme de Leigh Whannell (mais conhecido por escrever e atuar nos três primeiros filmes de Jogos Mortais e pela série Sobrenatural) não encontra direção em nenhum caminho e acaba se perdendo entre alguns subgêneros.

A história acompanha Grey Trace (o ótimo Logan Marshall-Green), um mecânico de carros ‘antigos’, que desde a primeira cena parece não se adaptar a um mundo dominado pela tecnologia, onde compras são feitas em um clique por computadores pessoais e veículos são guiados por mecanismos de inteligência artificial. Durante uma entrega de um carrão para o gênio Eron Keen (Harrison Gilbertson), espécie de Mark Zuckerberg deste futuro não tão distante, Trace e sua esposa (Melanie Vallejo) são atacados por bandidos. Ela morre e ele fica tetraplégico, mas motivado a se vingar de seus algozes. Keen oferece a solução: implementar em sua consciência o chip STEM (voz de Simon Maiden) que permite ao mecânico recuperar seus movimentos e, teoricamente, alcançar seus propósitos.

Partindo de uma premissa manjada de homem x máquina, Whannell tenta dar identidade a seu filme, mas derrapa na construção dos personagens e na história que quer contar. ‘Upgrade’ não se decide se é um filme clássico de ficção científica, com propósitos de entretenimento, ou se embarca na tradição ‘B’ e abraça o cult, cujo potencial para tanto é elevado. As cenas de ação são cruas e bem coreografadas e acenam para o chamado body horror (o terror gráfico, basicamente), à moda dos filmes escritos pelo diretor e as atuações são bastante competentes, especialmente de Marshall-Green e Betty Gabriel (do excelente Corra!), mas o roteiro peca ao oferecer pouca profundidade e optar pelo clichê quando pode.

No fim, tudo soa como uma desculpa para colocar Trace em lutas complexas, mesmo que as batalhas internas sejam mais intensas e ganhem espaço somente no terceiro ato, que corre apressado e quase sem ritmo. Talvez a mira tenha se voltado para o cinema de David Cronemberg ou ao recente Ex-Machina, mas o acerto está muito mais para um Robocop de maior profundidade. A reviravolta perto do final ainda promove certa dignidade, mesmo que aquém do potencial do diretor em construir e moldar nossa expectativa. ‘Upgrade‘ poderia mais se estendesse o foco no núcleo de sua trama, sem atirar para todos os lados. O filme deve estrear ainda neste segundo semestre.

Avaliação: regular

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