A sensibilidade de James Baldwin em ‘Se a rua Beale falasse’
Romance do autor americano inspirou filme homônimo do diretor Barry Jenkins, indicado a três categorias do Oscar 2019
O escritor americano James Baldwin (1924 – 1987) voltou ao foco do meio literário no Brasil após o relançamento de três dos seus principais livros pela editora Companhia das Letras. Um deles é Se a rua Beale falasse, livro inicialmente publicado em 1974.
O quinto romance de Baldwin conta a história de Fonny Hunt (Stephan James), um homem negro preso acusado de estuprar uma mulher, e de sua noiva, Tish Rivers (KiKi Layne), que se descobre grávida, aos 19 anos, e não mede esforços para provar a inocência do amado.
A vida do casal é interrompida bruscamente quando uma porto-riquenha o acusa de estupro, mesmo sem provas concretas. A partir disso, Tish e a família contratam um advogado para tentar libertar o rapaz.
Assim como em O quarto de Giovanni, Baldwin é sensível ao tratar de temas sociais e urgentes, como o racismo arraigado na sociedade americana dos anos 1970. Adaptado para os cinemas, o longa homônimo, do diretor Barry Jenkins, foi indicado a três categorias do Oscar 2019: melhor atriz coadjuvante, com a brilhante atuação de Regina King, como mãe de Tish; melhor roteiro adaptado e melhor trilha sonora original.
Se a rua Beale falasse é um retrato quase fiel à narrativa da obra de Baldwin. Quem leu o livro, recorda-se imediatamente de frases narradas por Tish. Uma das mais marcantes, sem dúvidas, é: “Espero que ninguém seja obrigado a ver a pessoa que ama através de um vidro”, dita pela jovem ao visitar o noivo na cadeia.
A única parte alterada no filme é seu desfecho, mas a escolha de Jenkins (consagrado pelo filme Moonlight) manteve a sensibilidade da trama e se encaixou como se o próprio Baldwin tivesse escrito aquela cena. Lamento que o filme não tenha sido indicado à categoria de melhor filme – é uma história marcante, inesquecível e fundamental.
Avaliação: Excelente