Elena Ferrante e seu relato pungente sobre amizade, mulheres e machismo
Tetralogia Napolitana voltou ao foco do meio literário internacional após adaptação para série na HBO
Best-seller internacional, a tetralogia Napolitana, da escritora Elena Ferrante, voltou ao centro das discussões do meio literário nos últimos dias. Lançada no Brasil em 25 de novembro, no canal HBO, a série My Brilliant Friend é uma adaptação dos quatro livros da autora: A amiga genial, História do novo sobrenome, História de quem foge e de quem ficae História da menina perdida.
Quem leu as obras, logo se identifica no primeiro episódio: os personagens, os cenários e os diálogos são fiéis ao retratar a narrativa de Elena Ferrante. A tetralogia mostra as diversas fases da vida de duas amigas, Lenu e Lila, desde a infância até a velhice. Sob sua perspectiva, Lenu conta diversos momentos de sua relação com a amiga e relembra os conflitos do cotidiano.
Mas a série Napolitana vai além: é um relato pungente e detalhado sobre mulheres, maternidade e amizade. É (quase) impossível não se identificar com Lena e Lenu. Desde a infância, as duas meninas passam por situações de machismo e de violência em um bairro pobre de Nápoles, na Itália.
De um lado, Lila é obrigada pelos pais a parar de estudar para ajudar nas tarefas domésticas e, em seguida, se casar nova com um homem mais velho. Já Lenu tem uma relação conflituosa com sua mãe, mas, com esforço, continua os estudos, forma-se em uma universidade e se torna uma escritora.
Em paralelo, Elena Ferrante coloca como pano de fundo a violência latente em Nápoles e o fascismo da Itália. Esses dois cenários também são cruciais no desenrolar da história e determinam o destino e a vida de alguns personagens, como Pasquale, Nino, a família Solara e até mesmo o ex-marido de Lenu, Pietro.
A autora retrata de forma detalhada o dia a dia das amigas, mas sem apelar para o sentimentalismo. Todos os relatos são descritos na visão de Lenu e sem meios-termos. Não há romantismo sobre a maternidade e nem mesmo sobre a amizade. E é por isso que há tanta identificação entre as mulheres.
Elena Ferrante nos prova que a literatura é uma representação fiel à realidade (ou vice-versa). É uma tetralogia que merece ser lida e relida em diferentes fases da vida.
Avaliação: Excelente