Entrevista: “A poesia é minha companheira”, diz poeta Carlos Cardoso
Apesar do ‘boom’ de vendas dos livros ‘Outros jeitos de usar a boca’, da poeta canadense Rupi Kaur, e dos publicados por Paulo Leminski, o mercado de poesias no Brasil ainda é pequeno. Divulgada em 2016 pelo Instituto Pró-Livro, a pesquisa ‘Retratos da Leitura no Brasil’ mostra que o gênero literário é apenas o oitavo mais lido no país. Apesar deste cenário, muitos poetas resistem por amor à poesia, como é o caso de Carlos Cardoso.
Em 2017, o autor, que é formado em Engenharia, lançou o livro ‘Na pureza do sacrilégio’ após dez anos sem publicações. Em entrevista ao Sapoti Cultural, ele diz que os leitores não têm o hábito de ler poesia por achar difícil. Carlos enfatiza: “A poesia é minha companheira”.
1) O ‘Na pureza do sacrilégio” é seu livro de retorno à poesia após dez anos. O que essa obra representa para você? Quais foram suas inspirações?
O livro ‘Na Pureza do Sacrilégio’ é meu retorno ao mercado editorial, a poesia sempre esteve comigo. Nesse intervalo, continuei escrevendo e tendo-a como uma grande companheira. Essa obra representa, para mim, um marco divisor do amadurecimento da minha poesia pelo tempo, e por um trabalho feito ao longo de quase dois anos, envolvendo várias pessoas com um objetivo único, de fazer um belo livro de poesia. Minhas inspirações são variadas, podem ser de um momento de solidão, de reflexão ou de uma maçã, mas sempre acompanhados da criação e das habilidades e cuidados necessários para se fazer um bom poema.
2) Como é ter a chancela de Silviano Santiago e Antônio Cícero? Quem são suas inspirações na poesia?
Ter Silviano Santiago e Antônio Cicero presentes no livro, por escolha deles, é ter a clareza de que os poemas que produzo são de boa qualidade. Minhas inspirações, eu procuro em mim e ao meu redor, quanto às influências literárias, tento não deixar que isso aconteça, para que o meu estilo de poesia seja próprio e que toque com sensibilidade as pessoas que as lerem.
3) Por que a escolha, pela primeira vez, de uma artista plástica para ilustrar seus poemas? As ilustrações complementam os versos?
Esse projeto com a Lena Bergstein é antigo, o trabalho da Lena contribui com uma conversa clara entre duas formas de fazer arte, em que ele pinça palavras e cria suas imagens sobre um determinado poema, com a visão, habilidade e percepção de uma grande artista plástica. Cada imagem é sobre um poema específico, e não o contrario.
4) Falando um pouco sobre a poesia no Brasil… Você acha que é preciso de mais espaço? Como você vê o mercado para os poetas brasileiros? Ainda há muito o que melhorar?
Claramente, a poesia no Brasil não é valorizada, poucos compram um livro de poesia, muitos acham a poesia de difícil leitura por falta do hábito. É preciso melhorar pelos poetas, e principalmente pelos leitores, que são os que mais perdem nessa equação.
5) Em algum momento a Engenharia foi um bloqueio para você estrear na literatura? Quando você começou a escrever?
A engenharia não foi um bloqueio em nenhum momento, é claro que são dois “mundos” bem diferentes, com dinâmicas e pessoas de perfis diferentes, talvez isso me torne mais sensível entre os engenheiros, e mais pragmático entre os escritores. É uma circunstância da vida que tive e tenho que me adaptar. Comecei escrever poesia aos 14 anos de idade, claro que de uma forma bruta e, ao longo da vida, foi sendo aprimorada e lapidada.
6) O que significa a poesia para você?
A poesia é minha companheira, é por ela que digo coisas que emocionam outras pessoas ou levo mensagens de indignação, ela é a minha voz muito alta e ao mesmo tempo sussurrando.
7) O “Na pureza…” foi lançado ano passado, mas você já tem algum outro projeto em andamento? Pode revelar para a gente?
Outros projetos, sempre tenho na minha vida. Sou um trabalhador e produzo muito por natureza, mas nesse momento, estou focado no livro ‘Na Pureza do Sacrilégio’, que está chegando às pessoas no Brasil e fora, e tendo uma boa aceitação dos críticos e dos leitores.