Ex-catadora de latinhas moradora do Morro do Estado, em Niterói, vai lançar livro na Bienal 2019

 em literatura

Uma infância difícil no alto do Morro do Estado, em Niterói, com a fome sempre batendo à porta, catando latinhas com apenas 7 anos para ajudar a família. Apesar de todos os percalços da dura vida, a escritora Débora Moreno enxergou o que há de belo no mundo para se inspirar e escrever. “Aprendi a ver a beleza onde muitos pensam não existir”, explicou.

A escritora vai lançar seu primeiro livro infantil “Lolita Braço de Fita” na XIX Bienal do Livro, que acontece em setembro, no Riocentro. Com 44 anos, ela já escreveu oito livros de poesias e contos, além dar palestras e apresentar seus trabalhos para alunos de escolas públicas através do teatro de bonecos de pano que ela mesma produz.

Os recicláveis que antes catava quando criança hoje ajudam na caracterização de suas performances. Confira a conversa que nós do Pitaya Cultural tivemos com a contadora de histórias em verso e prosa. 

Como nasceu o desejo de virar escritora?

Foi aos 7 anos, quando escrevi o meu primeiro poema. Foi na Escola Municipal Honorina de Carvalho, em 1982, que fica no bairro de Maria Paula, Niterói. A minha família se mudou do local, mudei de escola, mas o poema ficou adormecido na minha memória, num cantinho reservado.

Como foi a sua infância? De alguma forma serviu de inspiração para seus poemas?

Nós mudamos para uma casa própria, no alto do Morro do Estado. Estou aqui até hoje. Fomos melhorando a casa aos poucos. A minha infância e adolescência não me deixaram saudades. Lembro-me que na época eu queria era chegar aos 30, 40 anos. Passei a me inspirar fortemente após os 27 anos de idade.

Por que?

Foi uma época muito difícil, pois a minha mãe trabalhava muito para sustentar três filhos e o marido desempregado. Sempre faltava paz e comida na mesa. 

E como foi essa inspiração?

Aos 27 anos de idade escrevi um poema (confira no final da entrevista). E percebi que as pessoas gostavam quando eu o declamava. A inspiração ficou forte e constante até hoje é assim. 

‘Lolita Braço de Fita’ será lançado na Bienal do Rio, em setembro | Divulgação

Sua história lembra um pouco a da escritora Carolina Maria de Jesus. É uma inspiração?

No ano de 2014 conheci a história de Carolina Maria de Jesus. Então percebi muitas coisas (em comum), foi como um espelho.

A sua vida na favela, sua infância difícil e trabalhando como catadora, ajudaram na  composição de suas poesias?

Te respondo em forma de poema:

Paisagem da janela                                       

O que mais posso esperar?

A minha casa fica em frente ao mar.

A ponte Rio e Niterói têm uma elegância 

Que pode ser vista à distância.

Abro a minha janela,

vejo prédios,

Gente caminhando,

Escuto os primeiros passos

E a barca anunciando à travessia no mar.

É a cidade em movimento.

Cada luzinha tem a sua história e ficará sempre na memória.

Isso tudo é inspiração. Aprendi a ver beleza onde muitos pensam não existir

Me fale sobre um pouco do seu trabalho de teatro com bonecos de pano nas escolas públicas.

Na adolescência eu ouvi muito: ‘Você não é capaz’, ‘pobre não consegue realizar sonhos”. Nunca acreditei nestas frases. Há 17 anos montei o meu projeto “Um Pingo Vira Poesia” e comecei a visitar escolas públicas, presídios, ONGs, levando a arte, o teatro, a palestra que consiste em dizer que todos somos capazes de realizar o que almejamos.

Vi que usa recicláveis nas ruas apresentações. Como é esse processo?

A ideia é lembrar que reciclando corretamente estaremos protegendo o planeta.

Débora Moreno se apresenta contando suas histórias para alunos da rede pública | Divulgação

Qual a expectativa de lançar seu primeiro livro infantil, “Lolita Braço de Fita”, na Bienal do Rio?

A expectativa em lançar um livro é poder sentir aquela batida diferente no coração que só um escritor que lutou muito para chegar consegue identificar. O resultado é compartilhar sempre!

 

Estrela – Por Débora Moreno

Tú és uma estrela que brilha,

Encanta e enfeita o céu com a tua beleza.

Estrela que me faz sorrir,

Que ilumina,

Vibra,

Sonha,

Conduz e me faz feliz.

Vejo o teu sucesso,

Sinto o amor,

Te vejo brilhar em noites de luar

Tú não podes andar comigo de mãos dadas pelas ruas,

Tenho mãos calejadas,

Cruas e quase nuas,

Sei que não és a minha estrela

Embora em sonhos eu consiga te tocar

Mas o meu coração sabe

Que tu és uma estrela brilhante das noites e luar.

Onde vejo poetas viajarem em sonhos 

E quase sempre vejo-me também

Sonhando contigo

Meu eterno abrigo onde o meu amor é teu refém

Mas isso tudo é só um sonho

O poeta é sempre assim

Às vezes transforma rochas em rosas,

Cravos e jasmins

Outras vezes é um herói,

O forte lutador,

O mensageiro do amor

Assim é o poeta sonhador

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