‘No portal da eternidade’ disseca transtornos mentais de Van Gogh
Longa foge dos clichês e é marcado pela excelente atuação de Willem Dafoe
A vida do pintor holandês Vincent Van Gogh já foi retratada em alguns documentários e livros. No entanto, em No portal da eternidade, o diretor Julian Schnabel destrincha, principalmente, os transtornos mentais do artista. Rejeitado nas galerias de arte, Van Gogh (Willem Dafoe) decide mudar-se para o sul da França, após conselhos do seu amigo, o renomado Paul Gauguin (Oscar Isaac). Lá, ele enfrenta a depressão, os avanços da loucura, a pressão social e a solidão.
Schnabel, que é um dos principais pintores contemporâneos, reforça alguns pontos já conhecidos da biografia do artista holandês, como sua relação dependente com o irmão, Theo Van Gogh (Rupert Friend). Ele esteve presente em todos os momentos da vida de Van Gogh, seja para divulgar suas obras, para apoiar financeiramente ou para tentar entender os problemas psiquiátricos do irmão.
Com uma fotografia de tirar o fôlego, a cinebiografia passa longe dos clichês. Ao contrário de outros filmes sobre o pintor, No portal da eternidade mostra que Van Gogh chegou a ser conhecido pela crítica artística ainda em vida. No entanto, assim como mostram diversos trechos do longa, não foi valorizado e incluído no círculo de artistas da época.
“Eu só quero ser um deles, gostaria de sentar com eles e tomar uma bebida e jogar conversa fora. Eu gostaria que eles me dessem algum tabaco, um copo de vinho, até me perguntassem apenas ‘como você está hoje'”, diz o artista logo no início da trama.
Um fato importante da biografia do pintor, que normalmente é colocado em destaque em outros longas, é o momento em que ele corta a orelha esquerda. Neste filme, Schnabel preferiu tratar o assunto com mais naturalidade, sem cair na apelação. O assunto fica quase em segundo plano.
Além da direção e da fotografia, No portal da eternidade é marcado pela excelente atuação de Willem Dafoe. O fato de o ator não ter a mesma idade de Van Gogh (já passou dos 60 anos, enquanto o pintor holandês morreu aos 37 anos), não atrapalhou sua interpretação no filme. Pelo contrário, mostrou, com maestria, os conflitos internos, o sofrimento, a solidão e os transtornos do artista. Dafoe fez jus à sua indicação na categoria de melhor ator no Oscar 2019.
Avaliação: Muito bom