Resenha: Livro de contos “O Sol na Cabeça” consagra o escritor Geovani Martins na literatura
Os três primeiros meses do ano foram especiais para a literatura brasileira. Bons escritores contemporâneos se destacaram no período e conquistaram o público. O principal exemplo da nova safra de autores é Geovani Martins, de 26 anos. Descobri o livro de contos “O Sol na Cabeça” (Companhia das Letras) por acaso em uma prateleira da livraria Travessa, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), no início de março. Fui surpreendida positivamente por uma frase do compositor Chico Buarque na contracapa e confirmei a qualidade da obra após lê-la.
“O Sol na Cabeça” reúne 13 contos sobre histórias de adolescentes e jovens moradores de comunidades cariocas, que relatam angústias, medos, violência e casos de preconceito. O livro retrata a “cidade partida”, a desigualdade social entre o asfalto e favelas do Rio de Janeiro. Um dos principais textos é “Rolézim”, o primeiro da coletânea, no qual Geovani descreve o momento em que amigos resolveram ir à praia e depois foram reprimidos pela Polícia Militar. Ao retratar uma cena do cotidiano, o autor inovou ao utilizar uma linguagem coloquial, com gírias faladas por esses jovens no dia a dia.
O livro foi publicado na Companhia das Letras por intermédio do escritor Antônio Prata, que conheceu Geovani em uma das mesas da Feira Literária de Paraty (Flip) do ano passado e enviou os originais para a editora. Além de Prata e Chico Buarque, “O Sol na Cabeça” foi enaltecido pelo produtor de Cinema João Moreira Salles (que também escreveu na contracapa). A obra fez sucesso na Feira de Frankfurt e os direitos de tradução já foram vendidos para oito países. Na primeira tiragem, 10 mil exemplares foram publicados no Brasil. O número impressiona, já que é o dobro do comum no país.
Sobre o autor
Geovani nasceu em Bangu e atualmente mora no Morro do Vidigal, em São Conrado, Zona Sul do Rio. O jovem começou a se interessar pela literatura por meio de histórias em quadrinhos, como os gibis da Turma da Mônica. Antes de ser escritor, ele já fez diversos “bicos” e disse que nunca teve a carteira assinada. Geovani já foi garçom, homem-placa e distribuidor de papéis.
Em 2014, ele se destacou em uma oficina na Biblioteca Parque da Rocinha, quando escreveu um conto sobre a morte do cinegrafista Santiago Andrade, que foi atingido por um rojão durante um protesto no Centro do Rio. Depois, Geovani foi convidado para participar da Feira Literária das Periferias (Flupp) e da Flip, em 2015. Com “O Sol na Cabeça”, o autor se consagra e preenche uma lacuna no meio literário contemporâneo. Ele dá voz e visibilidade aos moradores que precisam lidar com a discriminação social (inclusive na literatura) todos os dias.