Resenha: Perturbador, ‘Canção de Ninar’ retrata a vida de mulheres

 em literatura

Sem idealização, Leila Slimani fala sobre maternidade, diferenças de classes e o papel da mulher na sociedade

“O bebê está morto”. A partir deste frase inicial, o livro “Canção de Ninar” leva os leitores a uma narrativa intensa e perturbadora. Além de mostrar a história de uma babá assassina, a escritora franco-marroquina Leila Slimani fala sobre maternidade, diferenças de classes sociais e o papel da mulher na sociedade.

Tudo começa quando Myriam, mãe de duas crianças, decide voltar a trabalhar em um escritório de advocacia. Apesar da relutância do marido, o casal faz um processo seletivo rigoroso em busca de uma babá perfeita e encontra Louise. A profissional se mostra dedicada, educada e discreta. No entanto, eles começam a criar uma relação de dependência mútua com a empregada.

Antes de matar as duas crianças, Louise torna-se indispensável ao casal. Os dois veem um conforto na babá, que chega a dar inveja aos amigos e vizinhos por sua “perfeição” e subserviência. Myriam delega os cuidados de Mila e Adam para a empregada, enquanto mantém sua rotina agitada na advocacia.

O ponto central de “Canção de Ninar” é a vida dessas mulheres. No entanto, Leila Slimani não idealiza nenhuma das personagens e evidencia o papel delas na sociedade. O romance nada mais é do que uma imagem fiel ao nosso mundo atual. De um lado, há o retrato real do dia a dia da maternidade, de como a mãe se esgota dessa rotina de casa-filhos-marido e anseia por voltar a trabalhar. Ao mesmo tempo, ela se torna individualista e se dedica integralmente ao seu trabalho.

De outro lado, há a babá obsessiva e dependente do casal, mas que também se revela uma pessoa oprimida pela sociedade por causa de sua classe social. Enquanto os patrões confiam à Louise a responsabilidade por seus filhos, ela acaba entregando, indiretamente, sua vida a eles. Por toda a vida, para se sustentar, a babá precisou dar mais atenção aos filhos dos patrões do que para a sua própria filha. O romance mostra também a relação conflituosa entre ela e a menina.

Sobre a autora

Nascida no dia 3 de outubro de 1981, a jornalista Leila Slimani conquistou o Prêmio Goncourt, em 2016, com o “Canção de Ninar”. Neste ano, a autora foi uma das convidadas da programação oficial da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip 2018).

 

Tijucana antes de ser carioca. Jornalista de profissão, não vive sem a dança nas horas vagas. É apaixonada por livros, música, arte de rua e exposições.

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