Youtubers ‘revolucionam’ divulgação de livros
O meio literário sofreu significativas mudanças por causa das redes sociais nos últimos anos. Antes da expansão da Internet, os leitores procuravam os livros diretamente em livrarias ou pesquisavam sobre as obras em grandes mídias, como jornais e revistas. Agora, os internautas conseguem ter mais acesso a resenhas de livros por meio de canais no Youtube e páginas literárias no Instagram. Normalmente, os booktubers são jovens e utilizam uma linguagem mais informal do que nas tradicionais críticas publicadas na imprensa, o que torna o assunto mais atraente ao público.
Criadora da página LiteraTamy, a estudante de Letras Tamy Ghannam afirma que a Internet promove uma divulgação menos burocrática e destaca que, assim como a literatura, também é um mais potentes espaços de diálogo com as pessoas. “Um autor independente pode encontrar no booktube uma maneira de atingir outros leitores, de um modo menos burocrático e inacessível que aqueles oferecidos por grandes editoras ou grandes eventos de divulgação literária”, diz.
Tamy conta que criou o canal há três anos por necessidade de compartilhar experiências de leitura. Ela acrescenta ainda que a literatura esteve sempre presente na sua formação, tanto pessoal quanto acadêmica. Atualmente, a jovem tem mais de 6,7 mil seguidores no canal. “Eu precisava conversar com alguém sobre aquilo que eu lia e sobre as minhas percepções acerca das minhas leituras, falar sobre como os livros transformam a minha maneira de ver o mundo. Quando descobri que a Internet poderia ser um mecanismo para alcançar pessoas apaixonadas pela literatura, decidi utilizá-lo. Deu certo”, enfatiza.
Os dois tipos mais comuns de parceria dos booktubers são com editoras e com autores. Com as editoras, eles recebem os livros e têm um prazo para ler e fazer as resenhas. No segundo caso, os próprios escritores procuram os youtubers para divulgar as obras. Para a jornalista Manu Mayrink, da página Alguém viu meus óculos?, os canais ajudam os autores a atingir diretamente o público alvo. “Eles vão direto em quem está procurando dicas e recomendações literárias. Isso sem contar o fato de que os autores podem criar seus canais de relacionamento com os leitores. Sabendo usar, a Internet pode ser muito democrática”, completa.
Em paralelo às parcerias, os booktubers também escrevem sobre livros indicados por amigos ou encontrados nas próprias livrarias, como é o caso do jornalista Andre Pipoco, do canal Minha vida daria um livro. Ele contou que a página começou com uma brincadeira com os estagiários onde trabalha. Após pesquisar alguns canais na Internet, Andre decidiu unir suas histórias de vida com experiências literárias.
“Os estagiários achavam minhas histórias muito engraçadas e perguntaram por que eu não virava um youtuber. Primeiro, achei a fórmula muito desgastante. Resenhas de 30 minutos costumam ser cansativas. Falei para eles que não achava o projeto interessante e que eu queria algo que incentivasse as pessoas a ler sem um caráter formal ou acadêmico. Um deles disse que sempre que começava um livro, a cabeça ia para outro mundo. Argumentei que essa é uma grande funcionalidade da literatura e fiz a associação com as memórias”, explica.
Literatura atual
Os booktubers afirmam que as novas formas de divulgação de livros agitaram o meio literário. Mas eles ressaltam que é preciso de algumas mudanças na área. Manu lembra que os preços das obras ainda não são acessíveis para a maioria dos brasileiros. Ela acrescenta que o nível de leitura de uma população está associado à qualidade da educação, o que é um problema no Brasil.
“Todos precisam descobrir os sebos. Já encontrei tanta coisa incrível nessas lojas e por preços ótimos. Mas vejo muitos deles perdendo espaço. Devemos perceber que os livros precisam circular, ser emprestados, discutidos, debatidos, doados. O importante é que todos tenham acesso”, reforça a jornalista, que ainda brinca: “Descobri minha função na vida: aumentar o número de leitores do nosso país. Muita pretensão, né? Mas gratificante”.
Andre destaca o crescimento de publicações de autores contemporâneos. Assim como Manu, ele enumera questões que ainda precisam ser melhoradas. “Primeiro, faltam bons editores e revisores de texto. Sei que eles existem, mas são subaproveitados ou estão sobrecarregados. Segundo, os livros deveriam ser mais acessíveis aos consumidores. Depois, acho que os próprios leitores precisam se tornar mais críticos”, analisa.