13 músicas censuradas pela ditadura militar

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Conheça algumas das canções brasileiras que sofreram nas mãos do regime totalitário que durou 21 anos.

Jair Messias Bolsonaro (PSL) foi escolhido neste domingo (28) o 38º presidente do Brasil e o terceiro militar eleito democraticamente. Sua trajetória política é marcada por alusões e homenagens aos “anos de chumbo” que sucederam o golpe civil-militar de 1964.

Entre as diversas ferramentas de repressão que o regime totalitário dispunha, uma das mais marcantes era a censura. O AI-5 foi o quinto e mais duro dos 17 atos institucionais, derrubando a Constituição, legalizando a institucionalização da tortura, o fim do habeas corpus para presos políticos e a censura prévia de produções artísticas e da imprensa.

Diferente do que muitos pensam, não apenas as famosas canções de protesto foram golpeadas pela ditadura, mas qualquer música que violasse a famosa moral e bons costumes que os militares, apoiados por grande parte da sociedade civil, impunham. As obras eram avaliadas pela Divisão de Censura de Diversões Públicas (DCDP), que respondia ao Departamento de Polícia Federal do Ministério da Justiça.

Já em 1979, foi criado o Conselho Superior de Censura (CSC), com o intuito de “abrandar” a prática, porém diversos artistas ainda tinham suas obras barradas pelo regime. Com o fim da ditadura, o órgão foi desativado, sendo reativado em 1987 e extinto no ano seguinte, com a Constituição Cidadã, que suspendeu, pelo menos oficialmente, a censura.

Tiro ao Álvaro (Adoniran Barbosa/Oswaldo Moles)

Ainda que não fosse considerada de protesto, a canção que hoje é um clássico do samba paulistano, também registrada por Elis Regina, foi vetada pelo regime. A desculpa era o “mau gosto” provocado pelos erros de português na letra. Os milicos, aparentemente, ficaram horrorizados com “tauba”, “artomorve” e “revorve”.

https://www.youtube.com/watch?v=eUJ8YNkMOBI


Acender as Velas (Zé Keti)

Ao lado do samba “Opinião”, “Acender as Velas” foi censurada por cometer o crime de denunciar o cotidiano da favela nos anos 1960. A violência cantada em forma de crítica social incomodou os militares, mas não impediu da canção ser considerada uma obra-prima do sambista.


Vaca Profana (Caetano Veloso)

A música de Caetano Veloso é um dos casos mais interessantes de censura tardia. A poética obra foi vetada pela DCDP quando Gal Costa lançou seu disco “Profana”, em 1984. É que feria a “moral” e os “bons costumes”. O autor veio a lançar sua versão dois anos depois, em “Totalmente Demais”.


Herói do Medo (Carlos Lyra)

Um dos fundadores da bossa-nova também foi perseguido pelos coturnos. A música possuía trechos como “o passatempo estéril dos covardes”, “com altivez eu dou e tomo” e “para que eu me ressucite em liberdade”. Carlinhos, como o chamava Vinicius de Moraes, não aceitou alterar a letra e partiu para o exílio.


Apesar de você (Chico Buarque)

Chico, em uma das muitas tentativas de driblar a censura, tentou enganar o regime dizendo que a música se tratava de uma briga de casal. Deu certo, por um tempo. mas depois foi proibida de tocar nas rádios. No vídeo abaixo, um registro ao vivo com o grupo MPB4, no programa Ensaio, da TV Cultura.


Jorge Maravilha (Julinho da Adelaide)

Mais uma vez, Chico tentava enganar os censores, nesta respondendo pelo famoso heterônimo. É que, depois de “Apesar de Você”, o autor não conseguia emplacar mais nada. Como Julinho, Chico assinou canções como essa e “Acorda Amor” e rolou até matéria no jornal com o suposto artista nascido na Rocinha. Em “Jorge Maravilha”, Julinho ironizava ninguém menos que Ernesto Geisel, que tinha uma filha que era sua fã. Por causa dessa malandragem, os censores passaram a exigir a documentação mais detalhada dos compositores.


Pra não dizer que não falei das flores (Geraldo Vandré)

Um dos maiores hinos contra a ditadura, a música ganhou o Brasil no Festival Internacional da Canção, em 1968. Foi considerada subversiva, pois, segundo os censores, incentiva o protesto contra o regime. Ironicamente, após 50 anos, Geraldo Vandré proibiu um protesto contra o assassinato da vereadora Marielle Franco em um show realizado em João Pessoa (PB), sua terra natal. Ao estenderem uma faixa na plateia, Vandré interrompeu justamente a canção que foi proibida no país durante onze anos.


Cruel, cruel esquizofrênico blues e Ela quer morar comigo na lua (Blitz)

Disco riscado no final

Um dos maiores nomes do pop rock dos anos 1980, a banda liderada por Evandro Mesquita também sofreu nas mãos da ditadura. Duas faixas de “As Aventuras da Blitz”, o icônico álbum que vendeu mais de 300 mil cópias, foram vetadas. A primeira tinha palavrão e a segunda tinha o “mau gosto” da palavra “bundando”. Como a primeira prensagem do disco já tinha saído, o jeito riscar manualmente 30 mil cópias.


Os Doze Pares de França (Toquinho/Belchior)

O título fazia referência, pelo menos ao pé da letra, à tropa de elite pessoal do rei francês Carlos Magno. Apesar da canção começar com os versos “Os doze pares da França / Vêm de Belém do Pará”, os militares acharam que fazia muita homenagem ao país europeu.


Cálice (Gilberto Gil/Chico Buarque)

O festival Phono 73

Idealizada por Gil em 1973, a canção tentava driblar a censura fazendo referências metafóricas a históricas bíblicas. Os milicos perceberam o trocadilho e, no dia do lançamento, no histórico festival Phono 73, os microfones foram cortados. Não impediu da música ser cantada, sem letra, somente melodia e a repetição de “Cálice”/”Cale-se”. Foi lançada oficialmente apenas em 1978.


Que As Crianças Cantem Felizes (Taiguara)

Essa é apenas uma das 68 (!) canções que o compositor brasileiro, nascido no Uruguai, teve vetadas. O título já não “ajudava”, sendo, de cara, considerada uma afronta ao regime predominante.

https://www.youtube.com/watch?v=R7N7doBFoos


Ministério da Economia (Geraldo Pereira/Arnaldo Passos)

Apesar de ter sido composta em 1951, sob o governo de Getúlio Vargas, foi Leci Brandão quem sofreu censura ao tentar lançar a música em seu primeiro compacto, já em 1974. Os militares se incomodaram com versos como “Agora o pobre já pode comer/ Seu Presidente, pois era isso que o povo queria”. O argumento para o veto: “O autor não faz outra coisa senão ironizar todos os esforços do governo no sentido de estabilizar os custos de vida”.

Obs: Não foi encontrado registro da gravação no YouTube.


Milagre dos Peixes (Álbum – Milton Nascimento)

Hoje considerado um dos mais importantes discos da chamada MPB, em 1973 “Milagre dos Peixes” foi quase um trabalho instrumental. Milton Nascimento teve nada menos que oito das 11 faixas censuradas. Bituca, como sugestão da gravadora, passou, então, a cantarolar as melodias, num estilo que o consagrou.

Carioca, suburbano e operário das artes - especialmente a música. Redator, produtor, compositor, escritor e a rima, às vezes, não é intencional.

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