Anderson .Paak corta excessos e volta a soar inventivo em ‘Ventura’

 em música

Multi-instrumentista faz espécie de sequência sem se apoiar no material do álbum anterior

Anderson .Paak chama atenção no cenário musical desde 2016 com Malibu, seu aclamado segundo disco. O álbum lançou o músico e a banda The Free Nationals, ao estrelato por apresentar uma combinação criativa de soul, funk, R&B e rap, sem cair na pasteurização ou na combinação excessiva de referências. No ano passado, Oxnard foi bem recebido, trazendo alguns momentos reais de brilho, mas também acompanhado dos chamados ‘excessos de produção’— especialmente com canções repetitivas e construção não tão esmerada. Menos de um ano depois, ele volta com Ventura, que poderia facilmente ser feito com sobras do material anterior, mas soa inventivo e verdadeiro ao apresentar novas ideias e não reciclar excessos.

Como vem fazendo desde 2014, .Paak segue contando, tematicamente, sua história de vida nas obras. Se Oxnard apresentou a infância, Ventura conta seus percalços na adolescência, fase definitiva de qualquer ser humano, onde alegrias, medos, tristezas, novas descobertas e o eterno desconhecido são uma sombra permanente. A abertura com ‘Come Home‘, com participação do multimídia Andre 3000 (do duo Outkast) ajusta o tom do disco, pedindo a volta de um antigo amor no estilo dos melhores grupos da Motown. Não à toa, ‘Make It Better’, com o lendárioSmokey Robinson fazendo às vezes de cantor de apoio, segue a toada versando sobre um casal que se apaixonou, mas um dos lados vê que é preciso melhorar algo na relação. Não à toa, foi escolhida como um dos singles, e deve se tornar um clássico de seu repertório.

Reachin’ 2 Much‘, com Lalah Hathaway, mostra o narrador se perguntando do porquê de estar com a pessoa amada, sob um baixo funkeado e teclados inspirados no que melhor Quincy Jones produziu. ‘Winners Circle‘ faz referência ao filme Desafio no Bronx — Anderson .Paak se vê envolvido com uma mulher e acha que conheceu uma das três mulheres de sua vida, referência a um diálogo entre dois personagens. A colaboração do músico com Jazmine Sullivan em ‘Good Heels‘ descreve os pontos de vista de um homem e uma mulher: ele tendo um caso fora de seu relacionamento usual; ela pedindo para ficar em sua casa. Yada Yada, calcada nos bons versos de rap de .Paak, reconta sua história na indústria fonográfica.

A poderosa ‘King James‘, sobre a admiração do autor pelo jogador de basquete Lebron James, critica o presidente americano Donald Trump e atesta: ‘se eles construírem o muro, nós vamos pular a cerca’. ‘Chosen One‘ volta ao terreno do coração, com um sample deOn the Level, de Mac DeMarco, onde o narrador pede um amor que o ame por ser quem é e não por sua fama. ‘Jet Black‘, com referências bobas a automóveis, fala de sexo com a participação de Brandy, cantora e atriz que estourou no fim dos anos 90.’ Twilight‘, não creditada a Pharell Williams, é toda N.E.R.D. (duo de Willians) uma grande canção pop bem construída de valorização da mulher amada. A derradeira ‘What Can We Do?’ traz reflexões sobre o fim desse amor, como o término de um ciclo. A participação póstuma de Nate Doggabrilhanta o refrão grudento.

Anderson .Paak não reiventou a roda e nem quer. Com Ventura, ele entrega canções boas e memoráveis, talvez encerrando seu ciclo de cidades da costa californiana, mas apontando para um futuro robusto de possibilidades.

Avaliação: Ótimo

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