Baco Exu do Blues mostra evolução e domínio em ‘Bluesman’

 em música

Novo disco do rapper baiano, responsável pelo melhor álbum de 2017, repete o feito ao ampliar temas da estreia com habilidade e coesão

Baco Exu do Blues é um dos grandes rappers de sua geração. Se na estreia com ‘Esú‘, expôs temas como suicídio, depressão, autoestima, religiosidade, racismo, violência, sexo e drogas, com ‘Bluesman‘ ele abre o leque e amplia seu material com muita habilidade e coesão. Em nove faixas, tal qual o antecessor, o álbum passeia por temas caros a Baco e soa como uma evolução natural dentro das vivências e culturas que o cercam. Musicalmente, pode-se dizer que tudo soa menos catártico e mais contido — há menos rimas, repetições e refrões, e mais momentos em que o flow de Diogo Moncovo, sensivelmente melhorado, é quem brilha junto aos convidados e beats calculados e melhor depurados.

A abertura, com a faixa-título, exalta a negritude e decreta: ‘O funk é blues, o soul é blues/Eu sou Exu do Blues/Tudo que quando era preto era do demônio/E depois virou branco e foi aceito eu vou chamar de blues/É isso, entenda Jesus é blues’. Queima Minha Pele, com participação de Tim Bernardes, de O Terno, exprime a saudade de alguém que já se foi sob um pedido de desculpas e a melancolia de lembranças e momentos íntimos que só voltarão apenas neste território. Me Desculpa Jay-Z, uma das candidatas a hit começa com uma guitarra suave para versar sobre inseguranças, medos e fraquezas e o que é preciso para superá-las. O refrão grudento e radiofônico, com partipação da rapper ILUM3, ficará na sua cabeça.

Minotauro de Borges volta a falar de racismo de forma contundente e mostra como Baco convive sempre com seus fantasmas, um alerto para vilões que criamos nas nossas mentes: ‘Como Britney em 2007, meio incompreendido/ Me matei em gravação /Posso fazer isso ao vivo/Bebo da depressão/Até que isso me transborde/Vencer me fez vilão/Sou Minotauro de Borges’. Kanye West da Bahia faz um aceno ao polêmico colega norte-americano, enquanto Bibi Caetano marca as batidas quase num mantra que se conecta ao próprio conceito do disco. Na sofrida Flamingos, com participação do trio Tuyo, eles decretam: ‘Me deixe viver ou viva comigo/Me mande embora ou me faça de abrigo‘.

Girassóis de Van Gogh sintetiza a obsessão em que Baco Exu do Blues tem com sua obra em sentimentos variados, que tanto podem se dirigir a uma pessoa como a devaneios psicológicos. Preto e Prata, certamente a mais pesada do álbum, é quase outro conceito dentro de ‘Bluesman‘ que traz reflexões sobre fama, poder, religião em um bom resumo sobre aquilo que é caro ao rapper: ‘Querer o ouro só me fez mais fraco/O rap game é cocaína branca, vicia e nos mata/Virei imortal ao aceitar, minha pele é prata‘. A faixa-conceito BB King, que fecha na mesma linha e termina com um discurso poderoso, amarra perfeitamente as falas de Baco ao longo do disco e sinaliza uma possível continuação de outro trabalho (uma trilogia ou além, quem sabe?) que tem tudo para elevar o nível.

Avaliação: excelente

 

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