Dez discos internacionais para ouvir

 em música

Como fizemos aqui, agora é a vez de apresentarmos dez discos internacionais para ouvir. Lembrando que a lista, longe de ser definitiva, contém 10 dos álbuns que chamaram atenção pelo seu conteúdo musical/estético. Divirta-se.

Arctic Monkeys – Tranquility Base Hotel & Casino

Depois de ganharem o mundo e lotarem shows em arenas afora entre 2013 e 2014 (inclusive no concerto derradeiro, aqui no Rio), o quarteto de Sheffield voltou com uma obra quase conceitual sobre fama, dinheiro, paranoias sociais, males da internet e amizades deixadas de lado. O resultado dividiu opiniões entre os fãs, com as guitarras e os grande refrões sendo deixadas de lado e o piano/teclado assumindo a ponta em canções cadenciadas, com um pé em David Bowie e o outro no The Last Shadow Puppets, projeto paralelo do vocalista Alex Turner. Não é, no entanto, um disco solo, mas Tranquility Base Hotel & Casino estabelece bases firmes e corajosas sobre o que é fazer música.

Death Grips – Year of the Snitch

Com forte conteúdo político e social, o prolífico trio de hip hop experimental lançou mais 13 petardos sonoros em Year of the Snitch. Como qualquer álbum do Death Grips, aqui há um pouco de tudo: trap (Flies), shoegaze (Death Grips is Online), rockabilly (Dissapointed) e até o diretor de Shrek (!) fazendo uma participação especial pra lá de esquisita. Divertido demais.

Jack White – Boarding House Reach

Jack White, ex-guitarrista e vocalista da dupla White Stripes, embarcou em carreira solo basicamente fazendo um som mais encorpado que o duo que tinha com a baterista Meg White. O blues garageiro continuou na essência dos trabalhos, mas com Boarding House Reach, a onda de White agora é outra. Há os cenários familiares, com a guitarra zeppeliana de Over and Over and Over e a grandiosidade de Connected By Love, mas é nos momentos experimentais que o álbum se revela. Tem funk/hip hop em Ice Station Zebra, tecladeira oitentista emGet in the Mind Shaft e mil maluquices em Respect Commander. Famoso por ter um hit em estádios e na Copa, Jack White parece atirar para todos os lados, mas com um propósito talvez ainda mais ambicioso.

Janelle Monáe – Dirty Computer

Dirty Computer é um álbum-manifesto da cantora Janelle Monáe, sobre sexo, feminismo, políticas de igualdade e empoderamento. Muito de seu conteúdo parece ser alusivo à Prince, tanto nas guitarras floreadas quanto minimalistas que permeiam o disco. As participações estelares, do eterno Beach Boy Brian Wilson à sensação pop underground Grimes, contribuem para a aura artística-festiva. As canções narram uma distopia (ou futuro próximo?) da humanidade, sem deixar de lado o hedonismo como em I Got the Juice e Pynk. Na derradeira Americans, há um recado bem direto para o laranjão da Casa Branca e Janelle expõe suas visões e inseguranças de forma brilhante.

Kali Uchis – Isolation

A colombiana Kali Uchis faz, em Isolation, talvez seu grande salto musical. Misturando a ginga do seu país natal, guitarras espaciais, R&B de fino trato e cozinha certeira, o álbum é um grande caldeirão de influências que não parecem deslocadas umas das outras. Não é pouca coisa. Do suingue de Miami, passando por Nuestro Planeta e After the Storm, tudo é radiofônico e bem construído. Pop do bom para as massas.

Kids See Ghosts – Kids See Ghosts

Dois rappers, o gênio Kanye West e Kid Cudi se unem em Kids See Ghosts, projeto em que versam sobre melancolia, relações terminadas e a sociedade despedaçada, em sons etéreos e batidas leves e espaçadas. O disco homônimo é muito mais Cudi que West, a marca do rapper de Ohio é latente: não há a ferocidade e exageros comuns a West — há calmaria e reflexões sobre saúde mental. Tudo bem não estar bem. Não faça disso uma constante, crie uma rede de amigos, peça socorro se precisar e ouça este disco.

Natalia Lafourcade – Musas vol. 2

Precedido por um volume anterior, Musas vol. 2 continua o ótimo trabalho da mexicana Natalia Lafourcade em reunir um grande songbook da música latina. Com o auxílio da dupla Los Macorinos, a cantora joga com standards como Luz de Luna e Eclipse e habilmente traça uma atmosfera própria para os clássicos. Musas é um deleite do início ao fim. Para ouvir até enjoar e, pouco depois, ouvir de novo.

Pusha T – Daytona

Com apenas sete músicas e 21 minutos, aparente marca do produtor Kanye West este ano (Kids See Ghosts e seu disco também têm sete faixas), Daytona narra o rapper Pusha T em seu melhor. Escudado por batidas pesadas e samples precisos, ele não quer ser rei (esse cargo já tem um ocupante), mas vai reinar em seu canto: rimar sobre venda de drogas, sobre ser paranóico e vender drogas, sobre medo de morrer por conta das drogas. Sobra porrada para desafetos contemporâneos e outros nem tanto como Baby e Drake (Infrared é hilária). Afiado e preciso, Pusha T retira a poeira dos anos 90 e a atualiza com excelência.

The Voidz – Virtue

Para ouvir Virtue, não coloque no Youtube e não veja as músicas ao vivo. É terrível e indefensável. A recente passagem do vocalista do Strokes e sua nova banda por um festival português esvaziado dá a dimensão do estrago. Por outro lado, o disco é incrível, um verdadeiro contrassenso. Talvez seja a ciência do estúdio, mas o trabalho é o mais interessante de Julian Casablancas em muito tempo, inclusive contando dentro de seu antigo grupo. Basicamente dividido em blocos, Virtue se divide em três camadas que versam sobre os Estados Unidos pós-Donald Trump: há as músicas com pegada muito familiar (Leave It in My Dreams poderia estar em qualquer disco do Strokes, All the Wordz Are Mess Up em qualquer disco de qualquer cantora pop), as experimentais (vejam o clipe de QYURRYUSe como Pointlessness testa seu limite) e a parte que Julian declara seu amor ao punk (My Friend The Walls, Black Hole, We’re Where We Were) e tudo se funde em camadas robóticas de voz e timbres cuidadosamente pesquisados, claro. Um absurdo.

U.S. Girls – In a Poem Unlimited

Meg Remy, a mente por trás do U.S. Girls, é uma artesã musical. A canadense misturou dub, jazz, dance, pop, disco, noise e tudo que for inspiração e cometeu In a Poem Unlimited, um disco raivoso e doce sobre ser mulher em tempos de machismo e feminicídio. Em Pearly Gates, ela questiona como um céu controlado por homens pode ser seguro. Em Velvet 4 Sale, ela avisa: ‘melhor manter um olho aberto para um homem que pode explodir’. Todas as canções evocam um sentimento individual ou mesmo uma mulher individual, que pode ser combativa ou contemplativa. Musicalmente, é como se Madonna pegasse em armas e guitarras e acenasse para o ABBA. Excelente.

 

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