Morre o produtor Miranda, “a chave que abriu a porta”

 em música

“Eu queria ser um produtor que veio de um outro caminho, que era o caminho da piração”. Em entrevista há pouco mais de dois anos ao Panelaço, canal do João Gordo no YouTube, Carlos Eduardo Miranda, o Miranda, assumia, timidamente, uma de suas maiores qualidades.

Miranda morreu nesta quinta (22), aos 56 anos, em casa, apenas um dia depois de seu aniversário.Ainda nos anos 80, como tecladista e compositor, integrou grupos como Taranatiriça, Atahualpa Y Us Panquis e Urubu Rei. Quando repórter da revista Bizz, criou o selo Banguela Records, tendo como parceira a paulistana Titãs. O nome faz referência ao “Jesus não tem dentes no país dos banguelas” (1987), quarto álbum da banda.

Pelo Banguela, Excelente ou por sua habilidade de piração, lançou ou produziu nomes como Raimundos, Mundo Livre S/A, Skank, O Rappa, Cansei de Ser Sexy, Cordel do Fogo Encantado e Móveis Coloniais de Acaju, além de ter sido diretor musical do disco de estreia da paraense Gaby Amarantos. Uma de suas empreitadas também foi a TramaVirtual, ao lado de João Marcelo Bôscoli, que revolucionou a forma como uma geração interessada consumia música no País.

Detalhe da HQ “Magnéticos 90”, de Gabriel Thomaz e Daniel Juca (Ed. Ideal)

Ao mesmo tempo em que distribuía generosos elogios, sua sinceridade se fazia notar. Em 2015, deu uma entrevista ao Ligado à Música, onde decretava que o rock “está uma bosta”, sintetizando: “hip hop é rock, rap é rock, tudo é rock hoje, porque sei lá, esse negócio de rock, papo de véio do caraio (risos)”. Em um de seus últimos tweets, elogiou MC Carol, de Niterói, dizendo que ela era “a melhor”, “a mais foda”.

De Pernambuco, a Mundo Livre S/A destacou, em sua página no Facebook, que Miranda foi o primeiro a oferecer abrigo no Sudeste. Mais conhecido nacionalmente por sua atuação como jurado dos programas Ídolos, Astros, Qual é o Seu Talento? e JK Show, o gaúcho radicado em São Paulo, enquanto jornalista e produtor, mirou o canhão de luz para artistas de fora do velho eixo Rio-SP. E essa era outra de suas virtudes. Grande incentivador do manguebeat, soube, como poucos, reunir talentos e canalizar a efervescência de toda uma época. Para o Skank, primeira banda a se manifestar sobre a morte, ele foi “a chave que abriu a porta pro que viria depois”.

Em post na mesma rede social, Gabriel Thomaz (Little Quail and The Mad Birds e Autoramas) dá mais uma prova. Conta que um dia havia chegado em casa e sua mãe levou o recado: “Miranda da revista Bizz te ligou”. Segundo ele, sua vida nunca mais foi a mesma. Gabriel confessa, inclusive, que foi por meio do produtor que conheceu sua atual esposa e parceira de banda, Érika Martins: “Bah, velhinho, tô com um negócio aqui que você vai adorar”. Era uma fita demo da baiana Penélope Charmosa.

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