Clipe mostra através das imagens que o rapper nunca esteve sozinho na caminhada, sempre acompanhado dos seus, pretos e favelados, e que o apoiaram desde o início

“Tio Bill”, som rapper carioca MV Bill de 2017, ganhou um clipe nesta quinta-feira. O vídeo reúne “manifestantes” e foi gravado no bairro de Vista Alegre, na Zona Norte do Rio, antes da pandemia do novo coronavírus, em abril de 2019.

A alcunha de “tio” ao rapper da Cidade de Deus já o persegue e foi adotada pelo próprio há algum tempo. Aos 46 anos, MV Bill tem muita história para contar. O clipe mostra através das imagens que o rapper nunca esteve sozinho na caminhada, sempre acompanhado dos seus, pretos e favelados, e que o apoiaram desde o início.

Os cartazes trazem nomes de sucessos do rapper ao longo de sua carreira, seguindo o que também é cantado no single, relembrando músicas que marcaram época.

A gravação celebra a luta e faz alusão aos “arquitetos do rap”, como Sabotage, relembra o quão é difícil ser preto e cantor de rap no Brasil (“foi muito sofrimento pra chegar até aqui”), e que muito “operário ajudou a pavimentar estrada que qualquer cuzão hoje pode passar”. O rapper também lembra de suas referências na infância, como Run DMC.

MV Bill ‘não para’ durante pandemia

Esse é apenas mais um trabalho lançado por MV Bill durante a pandemia do novo coronavírus. Em maio, ele lançou um remix de Vírus, de 2019, produzido por DJ Piá. A música fala de uma das nossas maiores doenças: o racismo.

Em março, inspirado pelas medidas de restrição social provocadas pela covid-19, MV Bill lançou Quarentenae um mês depois, Isolamento. Os clipes foram gravados dentro de seu apartamento na Cidade de Deus, em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio.

MV Bill também está atualmente apresentando o programa Hip Hop Brasil, no canal a cabo Music Box Brazil, que está com episódios inéditos todos os sábados.

Um pouco da história do ‘emivi”

Desde a apresentação triunfal com uma pistola de brinquedo na cintura no Free Jazz Festival cantando “Soldado do Morro” até hoje, com mais de 20 anos de carreira, MV Bill tem muito a nos mostrar e ensinar. Naquele ano, 1999, ele lançava ‘Traficando Informação’, um dos seus mais icônicos álbuns.

Além do rap, Bill é um dos fundadores com Celso Athayde e Nega Gizza da Central Única das Favelas (Cufa), organização social criada em 1999 que ajuda a população periféricas e está presente no Brasil inteiro. Na esteira da Cufa, também veio projetos como o Prêmio Hutuz, que chegou a ser uma das maiores premiações de rap da América Latina, com edições entre os anos 2000 e 2009.

Bill também é escritor, tendo lançado entre 2005 e 2006 Cabeça de Porco (com Celso Athayde e Luiz Eduardo Soares) e Falcão  – Meninos do Tráfico (com Celso Athayde), este último acompanhando de um documentário que foi exibido no Fantástico, sendo premiado nacional e internacionalmente.

Ambos os livros tratam do ingresso de jovens no crime, com “Cabeça” contendo também material antropológico e etnográfico. O documentário ‘Falcão’ acompanhou 17 crianças e adolescentes no tráfico de drogas, com a maioria esmagadora perdendo suas vidas durante as gravações.

O rapper também se aventurou (e muito bem!) como ator em Malhação e no filme “Sonhos Roubados”, ambos de 2010. Em 2013, ele participou do filme “Eu Odeio o Dia dos Namorados”.