Os melhores discos nacionais de 2019 (até agora)

 em música

Selecionamos lançamentos que marcaram o ano musical brasileiro até aqui

Ainda não acabou o ano, mas já dá para atestar os bons lançamentos da safra nacional até aqui. Do doído novo disco de Alice Caymmi à guinada em direção ao pop do Terno Rei, selecionamos álbuns variados que se destacaram até o começo de junho. Ouça sem moderação!

Alice Caymmi – Electra

Acompanhada apenas do piano de Itamar Assiere, Alice Caymmi entrega uma das grandes obras contundentes sobre viver em 2019. De primeira, parece que as músicas escolhidas pela cantora versam apenas sobre dissabores de relacionamentos amorosos, mas escute com cuidado. Em ‘Electra’, Alice também reflete temas necessários, principalmente o medo, para seguir respirando em tempos turbulentos. Seu canto profundo e melódico mostra grandes interpretações, em faixas de Candeia (De qualquer maneira), Tim Maia (Pelo amor de Deus) e Maysa (Diplomacia), passando por pelo menos uma amostra definitiva de Areia fina (Lucas Vasconcelos).

Black Alien – Abaixo de zero: Hello hell

Um dos maiores rappers do Brasil, Black Alien voltou com disco que trata de seus problemas com o vício em drogas, seus sentimentos em relação ao mundo e sua verve romântica, sempre explorada em sua discografia. Com produção assinada pelo estrelado Papatinho, ‘Abaixo de zero: Hello hell’ é bastante conciso e rico em contornos melódicos e rítmicos, que dialogam com obras clássicas do gênero e põem o soul e o jazz na lírica certeira do Mr. Niterói. Em nove faixas e 26 minutos, o álbum representa com fidelidade o conceito de menos é mais e enfileira uma possível coleção de novos clássicos.

Djonga – Ladrão

Como ele bem sabe e corretamente faz questão de dizer, não existe outra pessoa fazendo o que Djonga faz pelo rap, música e cultura negra hoje no país. Seu impacto ainda há de ser estudado ao longo das gerações futuras, mas ‘Ladrão’ ficará como um bom documento. Ancorado por beats dos produtores Coyote, JNR Beats e Fritz, além de uma singela instrumentação de guitarra/percussão o disco traz o rapper versando sem erros contra a cultura do racismo (Hat-trick e a faixa título), se declarando para a amada (Leal e Tipo), alerta das consequências do crime (Bené) e aposta no otimismo como vetor de mudança (Falcão).

Fafá de Belém – Humana

Uma das maiores cantoras brasileiras de todos os tempos, associada a um trabalho diversificado em inúmeros gêneros musicais, do forró ao que se convencionou chamar de ‘brega’, volta com um disco surpreendente denso e calcado principalmente no rock e no jazz. Em ‘Humana‘, Fafá de Belém canta Jard Macalé e Waly Salomão (Dona de castelo), Joyce Moreno e Paulo César Pinheiro (Eu sou aquela) e a poderosa Alinhamento energético (de Letícia Novaes, do Letrux), entregando uma coleção de boas canções, que passeiam por temas variados de sua discografia e a conecta a um público mais amplo.

Jair Naves – Rente

Jair Naves, que foi o vocalista da mítica Ludovic, segue sendo provocador e misturando lirismo na medida certa. Em ‘Rente’, seu novo álbum, Naves analisa o comportamento humano em tempos de conservadorismo, atacando falsos moralistas (Veemente, Deus não compactua) e desejosos colonialistas, dando espaço para canções bonitas sobre amor e perda, caso de Gira, Escalas e Sonhos se formam sem meu consentimento. Musicalmente, o compositor continua de onde parou e faz uma espécie de apanhado da carreira, relembrando na fúria das guitarras os melhores momentos de sua antiga banda.

Jards Macalé – Besta fera

Como já analisamos aqui, ‘Besta fera‘ é um retrato sociológico sobre temas ‘trevosos’. Como Jards Macalé já declarou, o país está passando por um ‘Buraco da Consolação‘, mas vai sair desse poço. É bom ver Macalé em forma, sendo extremamente contundente em um álbum que conversa com seu disco homônimo de 1972 e ao mesmo tempo amplia suas possibilidades sonoras. O samba, velho objeto de amor e estudo está lá, em parcerias resgatadas com Capinam ( ), mas há também espaço para o experimentalismo em Vampiro de Copacabana eLimite.

Juliana Perdigão – Folhuda

‘Uma mulher brava / Não é uma mulher boa / E se ela é uma mulher boa / Ela é uma mulher limpa’, assim Juliana Perdigão começa ‘Folhuda‘, na faixa Mulher limpa,  um recado forte contra o machismo. Juliana construiu seu trabalho baseado fortemente no experimentalismo, mas aqui a artista se sobressai com composições ácidas e poéticas na mesma medida, um verdadeiro achado no mundo das cantoras. A proposta musical segue a mesma quase sempre, mas há espaço para sons mais ‘pops’, digamos, caso da melodiosa Torresmo, parceria com Arnaldo Antunes, que também entrega ruídos e explosões.

Nego Gallo – Veterano

Parte da construção do lendário Costa a Costa, Nego Gallo é um dos mais interessantes rappers do Nordeste em atividade. Com a mixtape ‘Veterano‘, Carlos Gallo expõe sem falsas colocações versos afiados sobre o que é viver de sua arte, passando por reflexões sobre a violência urbana e o amor, sem rodeios ou floreios em suas rimas. Musicalmente, a diversidade toma conta. Há ares fortes do funk carioca em DVD, ecos de ritmos jamaicanos em Passado presente, que fala sobre a passagem do tempo, até o hit O Bagui virou, a obra é um exemplo de como ressaltar experiência e humildade fazem um excelente disco.

O Terno – <atrás/além>

Como o título deixa explícito, ‘<atrás/além>’, marca um ponto de passagem para os paulistanos de O Terno. Desde a estreia calcada no rock dos anos 60/70 até chegar aos sopros e arranjos intricados de Melhor do que parece, o trio parece ter encontrado um caminho sonoro e lírico, muito por conta da direção que Tim Bernardes deu à banda. É tentador comparar esse álbum com o disco solo de Bernardes, mas a sensação rapidamente se dissipa em uma primeira escutada. Os temas existencialistas/conflituosos/bem humorados fazem valer que os rapazes cantam (e bem) sobre o que é amadurecer e crescer,

Terno Rei – Violeta

Com dois registros calcados no shoegaze/dreampop, o quarteto Terno Rei decidiu apostar no lado pop (no sentido que faz falta por aqui) e fez um dos grandes discos do ano com ‘Violeta‘. Canções de amor que soam como declarações ou evocam lembranças de tempos mais felizes como Yoko, 93, Luzes de Natal e o já hit Dia lindo ajudam a formatar a coesão e o que a banda vem buscado, incluindo a boa surpresa na troca de vozes com Estava ali. O trabalho bem calculado entre as duas guitarras segue, mas há entrada para violões e sintetizadores na mesma medida, que respondem pelas boas harmonias ou melodias das 11 faixas.

Comece a digitar e pressione Enter para pesquisar