Paulinho da Viola passeia pela carreira e homenageia parceiros com show impecável

 em artes, música

Sambista mostra vigor renovado ao entregar espécie de balanço em espetáculo conciso e arrebatador com ‘Na Madrugada’, que cresce de forma grandiosa

Paulinho da Viola não precisa provar nada para ninguém. Aos 75 anos, tem seu nome gravado há muito no panteão da música brasileira, é o maior sambista vivo. No show ‘Na Madrugada’, apresentado nesta sexta (14) e sábado (15) no Vivo Rio, o cantor, compositor, violinista e cavaquinista passeia por diversas fases de sua carreira e homenageia parceiros de composições e amigos/admiradores, como Elton Medeiros, Lupicínio Rodrigues e Candeia. O espetáculo, conciso e bem construído, tira o nome do primeiro disco gravado com Elton, originalmente lançado em 1965, mas reeditado em 68 com o nome de ‘Samba na Madrugada’.

Paulinho, como de costume, fala ao público somente o necessário. Conta histórias entre alguns intervalos de canções, saúda os múltiplos parceiros que tem ou teve na vida e faz piada (ou chama atenção) com o time de coração. A banda que o acompanha, formada por Adriana Souza (teclados), Celsinho Silva (percussão, um show à parte), Dininho Silva (baixo), Hércules Nunes (percussão), seu filho João Rabello (violão), Mário Séve (sopros), Paulino Dias (percussão) e Ricardo Costa (bateria) não deixa a peteca cair em nenhum momento, apesar do som embolado até a terceira música, e misturam arrojo e precisão, em sintonia finíssima.

É preciso frisar: Paulinho da Viola toca fácil seus instrumentos, com desenvoltura e precisão, e sua voz ecoa como sempre tímida, com rompantes aqui e ali — talvez em uma espécie de catarse interna — firme, afinada, marca da sua elegância no trato com a música e o público em si. Não há hesitação, mas um passeio suave e muito bonito pelas histórias contadas nas músicas, verdadeiros clássicos do nosso cancioneiro.

Entre as canções de todas as suas fases, potências atemporais como ‘Sentimentos’, ‘Coração Imprudente’, Nervos de Aço’, ‘Filosofia do Samba’ (entoado como a gravação de Paulinho, perfeita), Dança da ‘Solidão’, ‘Argumento’, ‘Timoneiro’, ‘No Pagode do Vavá’, ‘Coração Leviano’, ‘Eu Canto Samba’, ‘Quando Bate Uma Saudade’, ‘Perdoa’, e, antes do bis, seu maior sucesso: ‘Foi Um Rio que Passou em Minha Vida’, sua ode imortal à Portela, para celebração geral (a história sobre como o compositor percebeu o alcance dela é sensacional, abaixo). Paulinho ainda voltaria para um bis curto, primeiro tocando o violão sozinho e depois acompanhado. ‘Minhas Madrugadas’, naquele instante solo, soou como uma aula.

Sobre ‘Foi um Rio…’. Paulinho conta que no Carnaval de 70 estava entre os foliões de rua, na porta do Cine Odeon. Do Theatro Municipal saía um bloco entoando a canção, para a surpresa e alegria do sambista. Quando o cortejo passou por ele….nada aconteceu. “Foi aí que descobri que conheciam minha música, mas ninguém me conhecia”, disse, para delírio da plateia. Naquela noite, somente uma coisa o tirou do sério: o resultado do seu time, que empatou com o Flamengo em um lance de azar. “Escanteio na área do Vasco me deixa chateado”, cravou, aplaudido. Ao longo de 1h30, Paulinho da Viola enfileirou belezas e acalentou a alma, sem tropeços. Placar de 10 a 0 para ele e quem ganha somos nós.

Avaliação: Ótimo

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