Entrevista: Após lançar segundo EP, cantora Gabriela Garrido fala sobre trabalho independente

 em artes, música

Inspirada em Cássia Eller, Frank Ocean e Johnny Hooker, a cantora Gabriela Garrido, de 22 anos, lançou o EP “Entre” no início deste mês. Produzido em seis meses de maneira independente, o segundo trabalho reúne cinco músicas compostas pela própria artista. Em entrevista ao Sapoti Cultural, a jovem conta sobre sua relação com a música e enumera as dificuldades de se fazer um trabalho independente no Brasil. Mas os problemas não desanimam a cantora: “é desafiador e prazeroso”.

1) Como e quando começou sua relação com a música? E quando você decidiu seguir pela música de forma mais profissional?

Minha relação com a música começou bem cedo, e sinto que ela deve-se ao fato de eu ter tido a sorte de estudar em colégios que incentivavam o aprendizado musical. Pensando aqui, até na creche minha principal lembrança é das aulas de música. Além disso, cresci vendo mulheres maravilhosas cantando na minha família (principalmente samba). Apesar de tudo, eu realmente me encantei pela música na adolescência, quando descobri bandas de Rock. Especialmente bandas com mulheres no vocal. Acho que eu tive primeiro que aprender a ser fã pra poder virar cantora. Esse amor que me fez entrar numa banda no ensino médio com alguns amigos, e foi aí que eu me apaixonei. Foi só depois de me formar na escola e do fim da banda, porém, que eu reparei que a minha paixão era forte o bastante para seguir com isso e criar meu próprio projeto.

2) Você fez o curso de Comunicação Social na PUC-Rio, certo? De que forma a Comunicação influencia na música? Como conciliar as duas coisas?

Fiz sim! Bom, acho que mesmo que involuntariamente, eu acabo aplicando coisas que aprendi na faculdade na divulgação do meu trabalho. Acredito que a influência da minha formação aparece na minha postura como artista independente, até porque cada vez mais eu entendo que a comunicação é a chave. A gente precisa saber expressar nossas ideias bem e ser muito criativo para atingir mais pessoas e entregar conteúdo de qualidade para o nosso público. Conciliar as duas ainda é algo que estou aprendendo, porque sou recém formada. Mas desde a faculdade me sinto inclinada a projetos que incluam a música e/ou a redação. O que eu já exerço como cantora eu tento aplicar ao trabalho.

3) Assim como qualquer outro meio artístico, é difícil de viver de música no Brasil. Como você vê o mercado musical atualmente no país? O que falta melhorar?

Nesse meu pouco tempo de atividade musical, eu percebo um mercado cheio de dificuldades, mas que lentamente abraça cada vez mais a música independente e seus diferentes nichos. Omainstreamexiste, é claro, e é extremamente forte, mas diversas iniciativas e canais (principalmente online) vêm chamando a atenção das pessoas para os músicos independentes do país. O que falta melhorar, ao meu ver, é o incentivo à cultura. Em todas as esferas. Morando no Rio de Janeiro eu percebo que isso é bem gritante. Acho até que em outros estados a situação é melhor. Mas o que me deixa otimista, como mencionei, é o fato de que mesmo com os obstáculos, vejo artistas e selos independente construindo seus próprios espaços e tomando suas próprias iniciativas para contornar a situação.

4) Você sempre recebeu apoio da família quando decidiu se profissionalizar na música? Como?

Eu não tenho muito a reclamar nesse quesito. Como já comentei, sou grata por ter frequentado colégios que valorizavam a cultura e a música, e sempre pude fazer aulas de canto e violão graças ao apoio da minha família. Me observando durante os anos eles reconheceram o tamanho da minha vontade de ser cantora, então querer me profissionalizar não foi nenhuma surpresa. É claro que meus familiares reconhecem a dificuldade de fazer/vender música no país, e, como eu, têm a perfeita noção de que, infelizmente, é preciso ter outras alternativas – no meu caso, escolhi cursar e trabalhar com comunicação. Hoje eles me apoiam, quando possível, com uma ajudinha financeira, divulgando meus lançamentos para os amigos (isso faz toda a diferença) e comparecendo aos shows.

5) Sobre o seu EP… Quanto tempo você demorou para produzi-lo? Quais foram suas inspirações e influências? Você quem compôs as músicas?

Considerando a criação dos arranjos, a gravação , a mixagem e masterização das músicas e a elaboração da identidade visual… o “Entre” foi feito em um período de mais ou menos 6 meses. Me influenciei por tudo que escutei por esse período, mesmo que não tivesse nada a ver com o meu som em si. Lembro de escutar Frank Ocean sem parar na época das gravações e tentar roubar um pouquinho das interpretações dele, que são ao mesmo tempo intensas e suaves. Me inspirei muito na Courtney Barnett, principalmente em “De Bicicleta”, e no Johnny Hooker e seu disco de estreia, porque decidi colocar percussão nesse trabalho. Também lembro de mostrar no estúdio e escutar as músicas do álbum “Com Você… Meu Mundo Ficaria Completo” da Cássia Eller. E a banda americana “Florist” foi uma grande inspiração par a elaboração da identidade visual. É uma grande mistura que dá força no processo desgastante e bonito de construir um EP. E sim, todas as músicas são minhas.

6) Você tem feito seu trabalho de uma maneira mais independente, certo? Isso o torna mais árduo? Como você tem feito a divulgação do EP?

Sim, e com certeza é mais pesado por causa disso. Deposito muita energia em todos os aspectos do meu projeto (seja administrando os ensaios da banda, marcando shows, pensando na divulgação, fechando parcerias) e isso muitas vezes toma muito tempo, um tempo que eu poderia dedicar a compor novas músicas, por exemplo. Isso é um desafio de milhares de artistas independentes no país, não tenho dúvidas de que não estou sozinha. Mas ao mesmo tempo é desafiador e prazeroso. É incrível ver os resultados positivos. Cada nova pessoa que me manda uma mensagem dizendo que conheceu meu som e gostou me faz lembrar que o esforço vale a pena no final. Mesmo que no dia a dia eu lide com a divulgação sozinha, preciso dizer que, mensalmente, faço uma consultoria com a empresa Geração Y, de São Paulo, que é especializada em marketing musical. Além disso eu sempre busco aprender com os artistas independentes a minha volta, e estudo bastante sobre a divulgação na internet. E conto com amigos incríveis e talentosos que somam ao projeto sempre que possível. Para espalhar o “Entre” eu estou tentando seguir esse caminho, tentando fazer meu melhor, ser criativa nas minhas estratégias e debatendo com quem eu sei que entende do assunto.

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