‘Operação Fronteira’ mira na moralidade com resultado abaixo da média
Filme de J.C. Chandor se propõe a ser uma reflexão sobre atos condenáveis, mas esbarra em trama rocambolesca e não resolve seus conflitos
Quando a Netflix divulgou o trailer ‘Operação Fronteira‘, produção de ação com elenco encabeçado por nomes do grande escalão hollywoodiano, as expectativas eram altas. Os nomes dos envolvidos — o diretor J.C. Chandor (do ótimo O Ano Mais Violento) e o jornalista Mark Boalassinam o roteiro — geraram burburinho positivo em torno do que parecia ser outro bom produto da plataforma de streaming. Saber que a excelente Kathryn Bigelow (Guerra ao Terror) esteve envolvida veio como a cereja do bolo. Ao fim de 2h05 de projeção, no entanto, o filme falha em entregar bom entretenimento e parece vagar sem direção, à espera de um possível sequência.
A história: cinco mercenários interpretados por Ben Affleck, Oscar Isaac, Charlie Hunnam, Garrett Hedlund e Pedro Pascal decidem derrubar um narcotraficante na Tríplice Fronteira, a área da Amazônia entre Brasil, Colômbia e Peru, e ganhar uma bolada milionária no processo. Importante frisar, Pascal (conhecido pelo papel de Peña em Narcos) e Hedlund têm pouco tempo de tela em comparação com o trio mais conhecido entre seus protagonistas e o mal desenvolvimento deles e suas poucas falas são um dos motivos do filme não decolar em nenhum aspecto que se propõe a analisar. A moralidade, um tema caro a Chandor, vai surgindo aos poucos ao longo do filme, de forma bem construída, mas as soluções pouco criativas impedem um exame denso e esbarram na superficialidade.
É o clássico ‘último trabalho’ dos envolvidos, típico filme de assalto com outra roupagem, cujos conflitos aqui são mal ou nunca resolvidos. Sabemos de início que o personagem de Affleck, o presumido líder, vive uma luta interna, mostrando seu caráter ganancioso na casa do traficante Lorea e, posteriormente, em outra cena chave diante de nativos de um povoado próximo à Cordilheira dos Andes. Sua interpretação, ainda que sóbria, mostra que seu lugar é realmente atrás das câmeras. Entre o restante, Isaac e Hunnam se esforçam mais e por isso soam convincentes, mas o discurso de honra onde todos se escoram em dados momentos esbarra no problema principal: todos são ladrões, não ditos homens honrados. Tal fato por si só renderia um farto material, mas o diretor pouco aproveita essa vertente.
Há alguns momentos de luz, como quando uma mula despenca de um penhasco com dinheiro no lombo e a câmera poeticamente filma as notas em um voo quase coreografado: é o desprezo de Chandor pela ganância em um quadro perfeito, que também zomba da breviedade da vida dos que se julgam invencíveis. Os impulsos violentos de ‘todos por todos’, a alienação do soldado e, novamente, a ganância, estão por toda parte, mas ‘Operação Fronteira‘ não se ocupa de ir fundo em seus retratos. Uma reflexão rápida leva a um momento de tensão, que precisa de imediata resolução em qualquer das cenas de ação, e o que realmente importa fica fora de quadro (às vezes literalmente). O fim, que ganha pontos por ser pouco previsível, parece implorar por um novo começo.
Avaliação: Regular