‘Parasita’ faz história e é o maior premiado do Oscar 2020

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Prêmio máximo do cinema americano reconheceu obra-prima sul-coreana

Após o nosso tradicional bolão do Oscar, vieram os premiados. O resultado mostra que, mesmo em anos sim e em outros anos também alinhada a certo conservadorismo, Hollywood não é só indústria fechada em si mesma, se abrindo vagarosamente para a representatividade ou valor artístico de uma obra. Neste histórico Oscar 2020, com o maior vencedor sendo Parasita, de Bong Joon-ho, quebrando uma tradição aparentemente sólida de nove décadas, sobrou espaço para poucas surpresas. Coringa, que tinha o maior número de indicações, levou apenas dois prêmios. A presença do filme de Todd Phillips veio pelos números assombrosos de bilheteria e nada mais. É uma maneira “justificável” de incluir a categoria, felizmente cancelada, de Melhor Filme Popular entre os laureados.

Nas outras categorias, fora Cynthia Erivo brigando em Melhor Atriz por Harriet, uma inspiradíssima Lupita Nyong’o ficou de fora pelo espetacular Nós. Atores e diretores negros? Não desta vez. Apesar de Bong Joon-ho ter levado ainda por Melhor Roteiro Original, Melhor Filme Internacional e a merecida conquista em Direção, e Taika Waititi vencer por Roteiro Adaptado, outras premiações foram barbadas. Brad Pitt se consagrou, Laura Dern ganhou merecidamente,Joaquin Phoenix nem tanto, Reneé Zellweger mostrou porque é ótima, e Hollywood premiou o que é feito em casa com o documentário Indústria Americana. O streaming segue sendo esnobado pelos votantes, apesar desta última vitória. O Irlândes foi indicado 10 vezes e, como previsto, não levou nenhuma.

A “decepção”certamente foi para Sam Mendes e sua leitura de parte da Primeira Guerra, que ficou com prêmios técnicos. 1917 não é exatamente um filme ruim mas, tirando a magistral fotografia de Roger Deakins, nada é memorável. Não se pode dizer que Mendes não entregou um espetáculo, mas certamente não trouxe a melhor obra e venceu quem tinha mais conteúdo. Novamente, não é sempre que isso acontece, basta ver as últimas edições do Oscar. O número de abertura com Janelle Monáe foi um belo tapa com luva de pelica: no palco, dançarinos vestidos dos macacões de Nós, ou lembrando Eddie Murphy em Meu Nome É Dolemite e ainda citando Midsommar, com a cantora falando abertamente da falta de representatividade no meio da canção. Na apresentação falsa comandada por Chris Rock e Steve Martin, sobrou uma boa alfinetada para a Academia, como quando Rock olhou para Cynthia Erivo perguntando se a atriz havia escondido os outros atores negros em um alçapão, em referência à Harriet Tubman ou quando o bilionário Jeff Bezos, dono da Amazon, foi constrangido pela dupla.

Entre algumas boas entradas (a de parte do elenco de Cats reconhecendo a precariedade dos Efeitos Visuais foi uma bela sacada) e discursos convincentes (principalmente de Laura Dern e Joaquin Phoenix, que de fato merecia um prêmio por seus discursos), todo o resto foi bastante protocolar. Tom Hanks, quem mais?, anunciou euforicamente a abertura do Museu da Academia para dezembro deste ano. Na outra ponta, a maestrina Emeiar Noone tocou parte das Canções Originais, a primeira vez desde a invenção da estatueta. O que ficou do Oscar 2020 é que ainda existem muitas barreiras apesar do grande vencedor, e a Academia parece estar se dando conta que precisa encarar o todo sem os olhares de antes. Afinal, Joon-Ho e Parasita mostraram que é possível filmar e contar histórias de outro jeito. Olhando para o todo e sem esquecer de ninguém.

Vencedores do Oscar 2020

Parasita – 4 prêmios
1917 – 3 prêmios
Era Uma Vez…em Hollywood – 2 prêmios
Coringa – 2 prêmios
Ford vs Ferrari – 2 prêmios
Adoráveis Mulheres, Toy Story 4, História de um Casamento, Judy – Muito Além do Arco-Íris, O Escândalo, Jojo Rabbit, Rockteman – 1 prêmio

 

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