Love, Death & Robots é apenas para os curiosos

 em cinema e tv

Seriado é um deslumbre gráfico, mas quase todas as histórias são insossas ou se perdem em clichês

Os nomes David Fincher (Clube da Luta, A Rede Social) e Tim Miller (Deadpool) carregam um selo de qualidade — o primeiro por fazer filmes ousados, marcantes e fortes, sem se render ao chamado mainstream do cinema e o segundo despontou ao dirigir um blockbuster de um certo mercenário falastrão, cujos resultados surpreenderam os mais céticos. As duas mentes criativas se uniram para produzir Love, Death & Robots, uma antologia quase toda animada em cartaz na Netflix em 18 episódios que não ultrapassam os 20 minutos de duração. As histórias, ancoradas na ficção científica e em temas do título da série (Amor, Morte e Robôs), pretendem lançar diferentes olhares sobre este farto material, mas os resultados ficam muito abaixo do esperado.

Como gênero, a ficção científica busca refletir sobre os impactos e consequências da tecnologia na sociedade, conceito explorado com excelência emBlack Mirror, por exemplo. Aqui, os diretores pegam a fantasia apenas como assessório e raramente oferecem algo substancial no roteiro. Dos 18 episódios, apenas um 1/3 ou menos são aproveitáveis e o resto é apenas desperdício de talento da equipe envolvida. O visual em geral é absolutamente deslumbrante e cada história tem uma técnica distinta (três são similares) de animação, com resultados excelentes. É difícil não se maravilhar na maioria deles, o episódio A Testemunha quase engana qualquer desavisado por seu realismo, mas quase todos carregam a mesma pecha: são esquecíveis.

Entre os trabalhos, a dupla de diretores Victor Maldonado e Alfredo Torres se destaca pelos marcantes Os Três Robôs e Quando o Iogurte Assumir, facilmente o que há de melhor em Love, Death & Robots. A primeira mostra um trio de mecanizados, cada um representando certas personalidades e paranoias num mundo pós-apocalíptico que encontram…gatos e a segunda é uma loucura que mostra os laticínios como governantes do mundo, em um curto mas marcante conto sobre moralidade e falhas humanas. Outras duas boas safras são Para Além da Fenda de Áquila, que coloca elementos de horror em um fim nada óbvio, com forte influências de clássicos sci-fi, e Boa Caçada, que usa traços japoneses em um clássico de vingança bem construído.

Zima Blue, sobre um pintor que não aparenta quem é, abraça a metafísica e deixa o que pensar. No mais, todo o resto é insosso ou nada surpreendente, sob clichês já vistos em qualquer produção televisiva dos últimos 30 anos. Há boa dose de violência gratuita na maioria dos episódios, outras histórias que não rendem nada ou que existem por existir (como Metaformos e Noite de Pescaria), quando não reproduzem sexismo e machismo em larga escala, em clara alusão à antologia Heavy Metal. Uma batalha entre lobisomens digitais parece atrativa à primeira vista, mas você já viu isso antes. Um grupo lutando contra uma força sobrenatural com uma reviravolta emulando os filmes de terror noventistas? Também. Não estranhe se você se sentir perdendo tempo ou desistir no meio do caminho.Love, Death & Robots tem alguns truques na manga, mas visual e (poucas) boas sacadas não são tudo. Não há segunda temporada que resista se a criatividade não vier junto.

Avaliação: Regular

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