Retrospectiva Pitaya Cultural: Os melhores filmes de 2018
Com o fim de 2018 logo ali, é hora de Pitaya Cultural começar sua retrospectiva sobre o que de melhor saiu este ano nas artes em geral. Nesta quarta-feira, começamos com a sétima arte
Um ano difícil, mas recheado de boa arte, principalmente nas telonas. Com a lista dos melhores filmes de 2018, usamos como critério estreias no Brasil em 2018, seja nas salas convencionais, em festivais ou serviços de streaming. Há algumas ausências — A Favorita está na maioria das listas lá fora, mas só dá as caras dia 26 e realmente queremos ver a animação do Homem-Aranha — mas achamos que as escolhas refletem o momento turbulento do mundo e há muito o que falar sobre. Eis os escolhidos:
Menção Honrosa: Pantera Negra – Dir. Ryan Coogler
Certamente o filme mais importante do chamado Universo Cinematográfico Marvel, Pantera Negra mostra a clássica jornada do herói em uma trama muito bem amarrada sobre o que significa ser negro hoje. E ter orgulho disso. No pacote, algumas das melhores sequências de ação vindas das HQs, ótimos efeitos visuais e atuações. Ryan Coogler (de Creed) mostrou a que veio e exatamente por isso garantiu outra aventura em Wakanda.
10 – A Balada de Buster Scruggs – Dir. Joel e Ethan Cohen
A estrutura episódica de A Balada de Buster Scruggs marca a volta por cima dos irmãos Cohen após algumas produções regulares recentes. Com histórias cativantes sobre o Velho Oeste, de temas tão variados (e familiares) e igualmente profundos, há um senso profundo principalmente sobre a morte e o que significa encará-la, mesmo quando ela parece ser ‘derrotada’. Desta lista, merecia estar nos cinemas por seus belos planos e fotografia.
09 – Hereditário – Dir. Ari Aster
Espécie de convenção de filmes de terror dos anos 60 em sua primeira metade, Hereditário foi além ao abraçar sua natureza perto do fim e expandir o gênero de forma inovadora. A construção de expectativa é moldada com rara habilidade por Ari Aster e o elenco está em perfeita sintonia em uma história sobre uma família que lentamente vai se despedaçando conforme eventos cada vez mais bizarros acontecem ao seu redor. Aster não dá descanso e a surpresa final deixa muito o que pensar por alguns dias.
08 – Três Anúncios Para Um Crime – Martin McDonagh
Talvez a história de absurdos e humor pesado de Martin McDonagh não tenha conseguido mais prêmios no Oscar deste ano por Três Anúncios Para Um Crime não ser perfeito. Há alguns buracos no roteiro do próprio McDonagh, principalmente sobre a jornada do policial reacionário vivido por Sam Rockwell, mas a mensagem é o que mais importa. Com uma Francis McDormand inspiradíssima, que consegue levar toda a história nas costas, é difícil argumentar que o diálogo final não está entre as coisas mais intrigantes e bonitas do cinema.
07 – Guerra Fria – Dir. Pawel Pawlikowski
Pawel Pawlikowski é o mesmo autor de Ida, certamente um clássico moderno. Em Guerra Fria, o diretor polonês conta a história do romance entre um diretor musical e uma jovem cantora por diversos anos, livremente inspirado pela vida de seus próprios pais. Todas as idas e vindas da trama, embalada por uma fotografia belíssima, são cada vez mais intensas e agridoces e aí reside a força do filme, que cativa por sua simplicidade, por valorizar o tempo de tela e, principalmente, por aquilo que não é mostrado.
06 – O Outro Lado do Vento – Dir. Orson Welles
O filme póstumo deste gigante da sétima arte é um documentário falso sobre um cineasta que apresenta a convidados uma projeção de seu último filme. Estrelado por nomes como John Huston e Peter Bogdanovich, O Outro Lado do Vento tira sarro de uma Hollywood clássica e da fase ousada dos anos 70, bem como os filmes europeus avant-garde. Com toques experimentais, Welles entrega um filme dentro de outro e o fato de não ter conseguido completá-lo (40 anos depois, imagine) torna-o também quase mítico. Um autoretrato bonito sobre a incapacidade de comunicação.
05 – As Boas Maneiras – Dir. Juliana Rojas e Marco Dutra
Depois da Retomada, o cinema brasileiro parecia condenado a repetir fórmulas de sucesso de comédias românticas com quase nenhum contéudo. Felizmente, Juliana Rojas e Marco Dutra voltaram a mostrar que há espaço para produções de horror com qualidade. E, como todo bom exemplo do gênero, As Boas Maneiras traz reflexões e joga debates no colo do público disfarçando – habilmente disfarçando suas intenções e virando dois filmes em um só sem perder a qualidade e nem a sua força. Um dos grandes filmes nacionais desta década.
04 – No Coração da Escuridão – Dir. Paul Schrader
Ethan Hawke faz o papel de sua vida ao interpretar o reverendo Ernst Toller, que cumpre suas funções com retidão em uma pequena igreja e sofre para se adaptar às novas tecnologias e mudanças dentro da comunidade religiosa. Quando uma mulher grávida o procura para conversar sobre seu marido, um ambientalista extremamente pessimista que não quer ter o filho, No Coração da Escuridão o padre começa a descer numa espiral de drama, violência e loucura. Paul Schrader, mesmo roteirista do clássico Taxi Driver, arrebata até o último frame.
03 – Trama Fantasma – Dir. Paul Thomas Anderson
Paul Thomas Anderson é, possivelmente, o melhor diretor de sua geração. ComTrama Fantasma, ele reúne Daniel Day-Lewis em uma excelente perfomance junto com estreante Vicky Krieps, que faz frente ao veterano em uma trama de amor que mistura desejo, obsessão, paranoia, luto e intensas batalhas psicológicas entre o casal. A reviravolta da trama acontece sem tropeços e culmina num fim melancólico (e assustador). Talvez o filme definitivo sobre o que é estar em um relacionamento abusivo.
02 – Infiltrado na Klan – Dir. Spike Lee
Eu sei. Escrevi que Infiltrado na Klan, o melhor filme de Spike Lee em muito tempo, foi a melhor coisa deste ano. Errei, mas foi por pouco. A surreal e cativante história de um policial negro que conseguiu se infiltrar na maior organização supremacista dos EUA com a ajuda de um colega judeu tem uma enorme força e relevância em tempos cada vez mais estranhos. As reflexões sobre racismo, sociedade e o soco na cara de Donald Trump ao fim, deixam um nó na garganta e nos fazem perguntar como chegamos até aqui.
01 – Roma – Dir. Alfonso Cuarón
Romaé o filme que Alfonso Cuarón nasceu para fazer, sua obra-prima. O mexicano veio tateando há cinco anos com Gravidade, mas aqui consegue atingir o ápice de sua criatividade e apuro técnico. Relatando a rotina simples de Cleo, diarista de uma família de classe média baseada livremente na do diretor, o filme tem planos belíssimos e sequências de tirar o fôlego (e apertar o coração) e ressoa quase como uma fábula. A sequência inicial já entrega toda a mensagem: Roma é abreviação de um bairro, mas espelhada é a palavra de maior poder do mundo.