‘O Menino que Descobriu o Vento’ joga luz sobre inspiradora história no Malawi, na África

 em cinema e tv

Longa que marca a estreia de Chiwetel Ejiofor na direção traz história real de menino que criou um moinho com sucatas que salvou sua comunidade da fome e seca

“O Menino que Descobriu o Vento” traz o adolescente de um vilarejo pobre e faminto do Malawi, na África, que supera todas adversidades para se revelar um gênio e salvar não só sua família, mas toda uma população que clama por uma redenção. A estreia na direção deChiwetel Ejiofor (protagonista do premiado 12 anos de Escravidão) é arrebatadora nesse longa da Netflix.

A narrativa, que começa arrastada, mas ganhar fôlego pelo bom roteiro, mostra a vida dos pais do jovem William Kamkwamba (Maxwell Simba), o menino que dá título ao filme, que assim como todos da região vivem da agricultura familiar, que dá a subsistência deles e garante o pouco dinheiro para outras despesas, principalmente os estudos, o que Trywell, vivido pelo estreante cineasta Ejiofor, não abre mão, mesmo que para isso eles passem necessidades.

A produção foca na educação de William frente às dificuldades enfrentadas no vilarejo onde mora a família, que vive grandes períodos de seca e poucos de produção dos plantios dos moradores, o que foi piorado com derrubada de árvores, que provocou mudanças climáticas na região. O contexto político da região, mostrando o descaso, abandono e até a ação violenta a quem é oposição, complementam o cenário cruel da população.

O drama real acompanha o curto período na escola de William, que acaba tendo que abandonar os estudos pela falta de dinheiro para pagar as mensalidades. Ainda assim, ele dá um jeito de continuar frequentando as aulas e aprendendo. Autodidata, através das leituras dos livros ele traça seu projeto: um moinho de vento que bombeia água através da energia solar e vai garantir a plantação da população durante todo o ano.

Chiwetel Ejiofor consegue conduzir o filme de forma que, mesmo com a obviedade e sabendo como “será o final”, é impossível não se emocionar no momento do clímax, quando a água “brota” em meio à seca trazida pelo sistema eólico, construído com sucatas de ferro velho e a bicicleta do pai de William.   

A fotografia valoriza o cenário diurno das locações, sendo 90% das imagens do filme. Outro ponto alto é a interpretação forte da matriarca da família Agnes Kamkwamba, interpretada por Aïssa Maïga.

O filme, baseado no livro homônimo escrito pelo próprio William, junto com o jornalista Bryan Mealer, é uma história de redenção. Óbvia, mas que precisava ser contada. Mostra com delicadeza um dos épicos existentes no continente africano que devem ser conhecidos pelo mundo, como o próprio cineasta defendeu disse em entrevista. Mais do que uma história de superação, “O Menino que Descobriu o Vento” foca na importância da educação, na ecologia e no senso de comunidade.

Malawi, o cenário do filme, foi um dos países atingidos pelociclone Idai, que deixou mais de 700 mortos e revelou nossa indiferença perante a tragédia, assim como o descaso de governos. “O Menino que Descobriu o Vento”, com a persistência e superação de um jovem diante de tantas adversidades, se mostra necessário para inspirar e, quem sabe, fazer o expectador lançar um olhar mais atento e humano para a África.

Avaliação: Bom

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